Posted by Faria

Racionalização das emoções.

É impossível tornar os sentimentos racionais, visto a sua origem no animalesco do ser humano. Talvez possam ser considerados o que de mais podre há no homem. Deturpam a realidade, impedem o funcionamento correcto do pensamento e levam a actos com mais riscos do que recompensas. Não podemos torna-los racionais visto que estes fazem parte do que o homem tem de mais básico, seria como tirar a mesa sobre a qual acenta um castelo de cartas bem organizado, ao mínimo movimento por parte da mesa pode levar a que o castelo caia. Como tal não podemos também erradicar este defeito, o efeito seria o mesmo. Mas e se cobrirmos estes sentimentos com racionalidade? Cobri-los o suficiente para não nos expormos a situações constrangedoras e momentâneas que só sobre o domínio das nossas emoções é que nos exporíamos de tal maneira. A única maneira de não termos de passar por estas situações seria aprisionar os sentimentos numa jaula racional. Teríamos que arranjar não um equilíbrio entre sentimento e racionalidade mas um predomínio da racionalidade sobre o sentimento mas sem levar ao limite ou seríamos máquinas autênticas. Teria que haver uma pequena janela por onde os sentimentos pudessem vir ao de cima, pois conter os sentimentos no interior da jaula resultaria numa combustão interior com consequências nefastas para o indivíduo. Mas ao fazer apenas uma pequena janela na jaula teria que se ter um certo cuidado com o fluxo de sentimentos que por ai ascenderia pois o efeito poderia ser idêntico ao de retenção destes sem uma janela para respirar. Uma solução para isto seria uma abertura da janela de pequenos em pequenos espaços de tempo. Isto comprometeria o rendimento da racionalidade, claro está, mas conservaria a saúde do indivíduo. O ser humano pode ser dividido em reflexos, sentimentos, os quais vão levar a actos involuntários e a racionalidade que leva aos actos voluntários. Enquanto que, os reflexos fazem parte de todo o ser vivo e são apenas os instintos básicos de sobrevivência os sentimentos acho que funcionam como uma ponte entre seres. O ser humano tem tendência para ser um ser solitário mas se juntarmos dois seres estes tem tendência a formar uma sociedade entre si. Mas esta sociedade não pode ser governada pelas emoções pois face a um problema as emoções e os instintos de sobrevivência fazem com que esta sociedade se aniquile a si mesma como tal a única solução para manter a sociedade é a racionalidade.
Com este exemplo da sociedade podemos ver mais uma vez que é impossível descartar as emoções pois sem elas não haveria uma sociedade mas apenas indivíduos isolados.

 

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III

As Batalhas

Com a tempestade ribombante
nasce entao o segundo tripulante
Nenhum deles é bem vindo
e dai o institinto fratricida

Com este nascimento
começa uma dança de tormento
Dragão contra dragão,
capitao contra capitao

por entre caricias sangrentas
lutam os capitães pelo leme
da noz, pela qual tanto
golpe se desfere

Eis então que ambos param
É altura do recolher
está encerrado o serão

recolhidos nos seus covis
pensam em mil e uma maneiras
vis de se degolarem e maltratarem

 

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II
Nasce o 2ºCapitão

Mas como se meteu Tiago
Capitão em tamanha aventura?
Porque acabou com o seu irmão
Com tamanha ternura?

Tudo começa com o sopro
De uma nortada
O barco afunda
E a alma desnorteada

Tiago Capitão, então,
Acha-se perdido,
Em praia solarenga
Sob pesada trovoada

É no estouro do trovão
Que forte como um touro
O marujo dá sinal de loucura

Questionando a sua ética
Forma uma deforma romântica e poética.
Desprende-se assim da fétida prisão
Numa pressa frenética acudido pela fonética

Grita e esbraceja
Pois o nascer do
Segundo capitão
Não é pêra doce

Pois se assim o fosse
Esta canção insana
Não teria sentido

 

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Tiago Capitão

I
O maior confronto
De Tiago Capitão
Foi contra seu homónimo
No seu próprio porão

Corpo a Corpo
Espada com carne
Até um estar moribundo
Ou ambos no fundo do mar

Prosseguiam em cortejo
Sob a luz da lua cheia
Com raiva vulcânica
Igual à de Pompeia
E grunhidos de baleia

E então, Tiago Capitão
Elevando o reluzente punhal
Enfia o golpe fulcral
No seu coração

Acaba assim Tiago Capitão
Com maldita maldição
Que lhe tirava o sono
E o aprisionava com tamanha depravação

 

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Acordo num lugar que não me é familiar, já estou habituado. Visto-me e saio. Lá fora o tempo é cinzento e abafado. Atravesso a cidade, desconhecido e desconhecendo todos, no limiar da cidade olho para trás. Não a reconheço, avanço então par a serra que a rodeia. Escalo o monte todo e sento-me numa pedra coberta de musgo. O ar frio do monte corta-me e congela-me a carne. Puxo de um cigarro para me aquecer. Não resulta. Penso então em acender uma fogueira, mas desde logo sei que o efeito seria o mesmo que o do cigarro.
Um véu de névoa cobre e a restante serra. O cigarro acaba, e eu então levanto-me gelado pela chuva miúda que cai. Passeio-me então algumas horas por entre frio e árvores.
Finalmente sigo o asfalto de regresso à grande massa abafado e cinzenta.
Tenho uma chave no bolso para uma fechadura desconhecida. Ou talvez não. Os meus pés param em frente à mesma casa desconhecida em que acordei. Entro. Passo por um espelho, mas nem o olho pois já sei que não vou reconhecer o que vir lá. Deito-me na cama e adormeço no mais cansado dos anonimatos.

 

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Bestas Blindadas

E as feras blindadas cavalgam pelos escuros carregadas de moles e adormecidos homens nas suas barrigas. Rugem enquanto avançam para que as bestas menores se desviem e as deixem passar de rosto alto como em desfile.
O tempo é negro e já falta pouco para que a minha besta me apanhe.
Do meu tosco banco observo as bestas restantes em fila para se alimentar. Não tenho pena nem interesse nos outros, isto porque não sou eles. Conseguem ser tão patéticos aqueles. Chegou a besta, mas ainda não é tempo. Esse uso-o para escrever este relato, sobre estas bestas e as suas presas.
Acaba de chegar mais um para o abate. Chove. O tempo está de luto por nós que embarcamos. E agora sim, embarcamos. Agora dentro do estômago da besta há apenas silêncio, só quebrado pelos rugidos da cavalgada
Enquanto aqui escrevo o fim aproxima-se. Chegou. Saímos então, silenciosos, para a chuva da paragem de autocarro.

 

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Encenação

Apenas vestido pelas sombras lançadas pela luz assim me apresento no palco deste grandioso espectáculo. Atravesso a cena, até que a sua beira chego. E então, ai, acariciando-lhe, primeiro levemente e aumentando a intensidade com que lhe vou passando os dedos até a carícia passar a abraço e o seu rosto corar. Ela acorda e com a mais genuína das surpresas que se pode pedir a alguém que não está surpreso possa representar, ela olha-me de olhos abertos enquanto vai corando. Até a mim me faz crer que não estava a minha espera.
-Verme! Vê como te esborracho por entre os meus dedos de unhas imundas! Todos vós se pensam altos como deuses mas eu sou o único divino, eu que dou e sobretudo tiro ar!

Cai o pano. As sirenes tocam.